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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Sobre... " Picasso, Rodin e etc" - Crônica de Dhyan Shanasa


            Conversava com um amigo quando ele me disse:
            - Picasso é “o cara”!
            Não conheci Pablo Picasso pessoalmente, tampouco tenho algo pessoal contra ele – aliás, não tenho nada contra nada -, e confesso que não sei uma virgula de sua história. Contudo, mesmo que ele seja “o cara”, certamente não sabe pintar. O leitor que venera pintura ficará escandalizado ao ver-me falar assim, mas apenas constato um fato. Que se danem os críticos letrados de pintura, que seguram seus óculos com grande pompa e olham para um quadro demoradamente como se aquilo exigisse determinado estudo. Se ainda olhassem uma pintura de Caravaggio vá lá, pois ele ao menos pinta bem, mas Picasso? Que é aquilo? Chamam de Cubismo, eu chamo de pintar mal. Se aquilo é pintar, meu sobrinho de 7 anos é um gênio.
            Não falei desta forma ríspida ao meu amigo, mas foi quase. Sou impaciente às vezes. Ele, por sua vez, tentou mostrar-me com A + B que Picasso era excelente pintor. Disse-lhe não estar interessado e tratei logo de mudar de assunto. Contudo, logo o nome “Da Vinci” veio a baila.
            - Da Vinci é “o cara”! – exclamou novamente o meu amigo.
            Eu ri e matutei num relance que o mundo está cheio “desses caras”. Não discordei que Leonardo fosse um bom pintor, mas deixei claro que seu papel como cientista era mais relevante do que como pintor. Nunca compreendi a veneração que todos os ditos entendidos têm pela Mona Lisa. Está certo, não é uma feia pintura, tampouco bela. Sou um Zé ninguém, não entendo de técnicas de pinturas, por isso não me crucifiquem dizendo “você diz isso por não entender!”. Não, não se equivoquem. Não sei nada de técnicas, mas digo por que vejo e sinto. Olhem para a Mona Lisa e me digam, de coração, o que de enigmático há nela? Leonardo certamente riria de nós ao ver-nos debatendo os mistérios “profundos” de sua arte. Concordemos que se não tivéssemos criado tantos mitos em torno daquela pintura, ela já estaria apodrecendo sobre uma lareira de um bangalô empoeirado. Contudo, havemos de dar crédito à Leonardo, pois ao menos não era cubista.
            - E quanto a Rodin? – indagou-me o meu amigo aflito – Imagino que desgoste dele também!
            Meneei a cabeça. Esse meu amigo não é muito esperto, sabem? De forma alguma disse desgostar de um ou de outro. Rodin? Lembrei-me do Pensador de Rodin. Estátua branca, fria, de um homem sentado refletindo sobre alguma banalidade. O quê? Os leitores acham que o Pensador de Rodin pensa em algo sublime? Pensar é ser banal; se ele está pensando, então é trivial. Não há nada de sublime no pensamento humano, daí o motivo da filosofia não ter utilidade alguma. Resumindo, aquele é um monumento a maior idiotice do homem: o pensamento. Serão poucos a levantar a mão e concordar comigo, mas que se dane. Não quero rebanho nem sorrisos de felicitações. Pobre Rodin. Não me recordo de mais nada que ele tenha feito. Não gosto de história. É acumulo de lixo épico. Já me basta o lixo diário que se acumula em minha cabeça. Rodin... Rodin... Foge-me alguma outra criação dele. Certamente era um homem culto, mas e daí? Deve ter sido um grande sujeito, mas e daí? O inverso disso pode ser verdadeiro, mas e daí? Não importa, não estou falando de Rodin e sim do seu Pensador pálido.
            O meu amigo estava desfigurado de raiva. Era inadmissível para ele ouvir tais coisas ditas por um rapaz como eu. Chamou-me de arrogante. Grande deselegância, aliás. Mas apresso-me em dizer-lhes que não iniciei o assunto, foi ele. As pessoas querem saber nossas opiniões sobre determinados assuntos, mas não as respeitam. Perguntam algo e depois tentam nos convencer de que estamos enganados. Não há enganos, não há acertos. Sempre digo quando me perguntam algo: “Tem certeza de que quer saber?”. Após minha resposta acontece que tentam me converter. É lastimável.
            - Mas, meu caro – tornou o meu amigo -, como pode dizer tais coisas? Então, não admira o trabalho de gênios como Bach ou Beethoven?
            “Bom”, pensei, “agora ele tentará me convencer de que eles não são tão bons como eu acho...”E não deu outra, pois ele preferia Mozart.

4 comentários:

  1. Lucas

    Vou discordar de você. Não sobre a arte, pois não entendo nada dela, mas sobre a filosofia e o pensamento.
    Pensar é banal. Todos os seres vivos pensam, pois fazem escolhas, por menor que sejam (comer, se mover, reproduzir, todos esses atos são frutos do pensamento).
    A diferença está em raciocinar, que é organizar os pensamentos, para chegar a um resultado novo.
    Raciocinar não é banal, não é simples, mas também não é exclusivo do ser humano.
    A filosofia é uma forma de organizar o pensamento e o raciocínio. A filosifia só existe na mente do homem.
    É fato que a filosofia não produz efeitos concretos, mas não é menos fato que a filosofia nos ajuda a refletir melhor e, assim, buscar as soluções para os problemas concretos.
    Por isso, entendo que a filosofia faz parte da solução dos problemas e, assim, ela é importante.
    Aliás, discutir se o pensamento é ou não importante, é uma forma de filosofar.
    Abraços
    Murilo

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  2. Murilo, seu comentário está correto. Mas está correto dentro dos limites do pequeno mundo que chamamos "pensar". Raciocínio é apenas uma forma "sofisticada" de pensar, mas se é pensar, continua sendo banal. A banalidade de algo não pode se alterada por ser mais enfeitada. De fato, problemas não existem, são conceitos sociais, e só existem pq pensamos. Tire o pensamento e verá q o problema some. Em verdade o problema é O pensamento em si, pois ele é a origem e a fonte de toda a deturpação, dualidade e misérias humanas. Discordar ou concordar disso é indiferente, pois a natureza das coisas não precisa de concordância ou discordância pra continuar a ser verdade. Descartes estava errado, pois "penso logo existo" não é uma afirmação exata. O que somos, em origem e forma natural, não tem nada com o pensamento. Nossa sensação de existir vem do pensamento, nosso chamado "eu", essa partícula centralizada que nos separa do Todo. Neste aspecto sim, "penso logo existo", pq me sinto existindo, mesmo sendo irrreal. Contudo, a discussão é bestial, como diria alguém, e discutir pontos de vista é besteira. Dito isso, ponhamo-nos em silêncio.

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  3. Dhyan, entendo sua posição e respeito, mas não posso deixar de apontar que a premissa básica do seu silogismo está errada.
    O pensamento não cria o problema.
    Por exemplo, se tenho fome, tenho um problema, preciso comer (solução) e tenho que descobrir como (pensamento/raciocínio).
    Assim, mesmo sem pensar, vou continuar com problema (fome).
    O pensamento só será a causa da miséria humana se você adotar a teoria da equivalência das condutas, ou conditio sine qua non. Porque, assim, toda as condições anteriores serão a causa da miséria humana e, por evidente, todo ato é precedido de um pensamento.
    Assim, como o pensamento é a base de tudo, é o culpado de tudo.
    Contudo, essa teoria conduz ao absudo, porque tanto na base do sistema capitalista (que visa o acúmulo de riquesa e, por derivação, o aumento da miséria, para aqueles que não conseguem acumular riquesa) quando na base do sistema comunista utópico (que sonha com a divisão da riquesa em partes iguais e o fim da miséria) está o pensamento.
    Com efeito, o pensamento seria, ao mesmo tempo, vilão (causa da miséria) e mocinho (solução para a miséria), o que é contraditório e, deste modo, logicamente inaceitável.
    Por tudo isso, eu discordo da sua opinião.

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  4. Murilo, vc me fez rir lendo o comentário haushiasiuh achei divertido, lembrou-me o Dr. de Moliére. Veja, não estou aqui pra concordar ou discordar de vc. A coisa é o que é, e o evidente está além da lógica do pensamento, e mesmo q o ser humano não o constate, ele continua evidente e verdadeiro, quer queiramos ou não. O pensamento é o "vilão e mocinho" e você ainda não compreendeu o que quero dizer justamente por estar preso a lógica. Tire a lógica da jogada e verá... A vida é em todos os sentidos contraditória. Em todos os momentos, a cada segundo, a cada respiração ela se contradiz. E é essa contradição existencial q faz dela única, q faz dela eterna em si mesma e infinita dentro de um momento finito. O pensamento gera o plano de fundo. Não pense que o pensamento advém da tua vontade, ele nem pertence a vc, ele só passa, por mero acaso, por nós, e a função dele é apenas uma: dar-nos a sensação de falso centro, de separação, de indivíduo. O pensamento é um mecanismo, sendo ele usado de forma consciente, oq, diga-se de passagem, não acontece, seria benéfico. Da forma tal como é feito, ele é por si só uma praga. Contudo, só há benefícios dentro do pensamento, pq a natureza dele é a de gerar dualidade, sendo assim, se se tira o plano de fundo do pensamento e deixa-se apenas o Observador, não há dualidade e por fim o benefício e o malefício somem. Nossa ideia de "eu" vem deste falso centro criado pelo pensamento. O mundo q te cerca neste momento é uma projeção dele. O Observador é o mestre do "eu" . Que outro mestre poderia existir ? Tudo existe , é um dos extremos. Nada existe é o outro extremo.
    Devemos sempre nos manter afastados desses dois extremos,
    e seguir o Caminho do Meio q é de apenas observar as coisas tal-qual-são. Não vou dizer a você que as coisas são de um jeito ou de outro; mas, se o pensamento é real, onde está? E, se o mundo é real, onde está? O pensamento é puramente não-existencial, e necessita do Observador para fingir existir. Tire o foco do pensamento e sobra oq? Nossa natureza.

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