Não sou romântico, a não ser em certas horas que se faz necessário. E foi numa dessas horas que conheci Marilda. Moça recatada, estudiosa e de boa vizinhança. Sim, freqüentadora de festas familiares, estudava no Barão do Rio Branco e morava nas últimas ruas de um bairro muito amistoso, chamado Jardim Imperial. E foi nesse bairro que a conheci. Estava eu tocando num baile do famoso clube Olho de Águia, que muitos maldosos chamam de “risca faca”. Apenas pessoas da mais alta classe freqüentam o lugar e Marilda, por ser uma delas, estava lá. Dançava no meio do salão de mini-saia jeans e tomara-que-caia branco. Uma belezura! Muitos marmanjos a cercavam, porém ela só tinha olhos para mim. Depois, ao final do baile, ela esperou eu guardar a traia musical e demos uma escapada até a cantina da Zoraide. Tomamos umas cervejas, ela aproveitou que eu estava pagando e misturou um conhaquinho, só pra esquentar. Êta mulher bacana essa Marilda, pensei. Tive sorte de achar essa moça boa no meio do baile. Tirei a sorte grande. E com esse pensamento levei Marilda pra pensão. Que noite meu amigo! Essa Marilda era mulher pra casar. No dia seguinte resolvi fazer uma surpresa para minha nova namora. Vendi minha garrafa de conhaque Dreher, que eu tinha comprado na copa de 94. Adorava aquela garrafa que me trazia boas lembranças mas isso é outra história. Vendi a garrafa com o conhaque dentro para comprar a aliança da Marilda. Fui até o terminal, peguei o busão e desci no Imperial, em frente ao bar do finado Pascoal. Meu coração tava na boca. Nunca tinha pedido ninguém em casamento antes. Quando cheguei na rua, não me lembrava o número da casa e fui perguntar para um dos moradores que estava de bobeira na calçada. O camarada me orientou dizendo que era a casa que ficava depois da árvore sete copas e complementou: - Vai de mansinho e com jeito que você traça mãe e filha, pois a "véia" é de lascar. Aquelas palavras me deixaram intrigado. Como uma filha tão jeitosinha e bucólica poderia ter uma mãe assim, rampeira e mal falada na boca do povo? Com aquele pensamento subi no ônibus para voltar a pensão. No caminho, mesmo sem ter uma gelada pra esclarecer meus devaneios, fiquei matutando e resolvi procurar ajuda profissional. Desci no centro da cidade e comecei a olhar as placas das lojas até me deparar com uma que dizia: Clinica veterinária, cinqüenta anos de tradição. Pensei: Opa! É aqui mesmo!
Adentrei no local e disse a recepcionista que gostaria de falar com o veterinário. Veterinário é muito mais entendido que médico ou psicólogo, pois ele tem que descobrir o que ta acontecendo sem o paciente falar. Bom, mas voltando ao assunto, eu não queria abrir minha vida particular para um sujeito que mal conhecia, sendo assim disse a ele:
- Doutor! Tô com um sério problema. Eu tenho uma cachorra novinha de tudo, muito bonita e jeitosa, mais a danada é tranqüila, sossegada, muito diferente da mãe que é uma espoleta, anda pra tudo lado, caça, guarda a casa, fogueteira que só vendo, um espetáculo. Acho que vou dar embora a filha, pois é muito diferente da mãe. O velho veterinário me olhou, colocou a mão no meu ombro e disse do alto dos seus cinqüenta anos de experiência:
- Fique tranqüilo! Essa cadelinha que você me disse vai ficar muito melhor que a mãe.
Sai da clínica triste e feliz. Triste por ter vendido minha garrafa de conhaque preferida e feliz por não ter entrado numa fria. Você pode me perguntar. Mas por que Chico?
Respondo-te sem titubear: Assim como são as pessoas, são as criaturas.
o Chico Goró é mais foda q o Charlie Harper!!!!!!
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