Tenho medo de sonhar, pois meus sonhos exigem empenho.
Como deixar essa vida fútil, mas correta, para sonhar
com coisas estranhas e sem cabimento.
Amarrado a um compromisso infindável, onde as regras
foram pré-ditas e os compromissos pré-afirmados mesmo antes do meu nascimento.
O que fazer? O que as
pessoas esperam que eu faça?
Sufocado por um
contrato com a vida, por um script ensaiado com o destino, sentenciado e julgado
pelo próprio criador, sigo minha sina sem reclamar, sem me rebelar.
Um anjo dentro de mim
pede-me a concentração e o ajuste, o demônio assopra ligeiramente ao meu
ouvido, num vento tangencial querendo me tirar da direção que meus pais e seus
antecessores trilharam muitas eras antes do meu parto.
Como um veneno sem
cura, como uma página escrita a caneta, gravado no ventre enraizado do meu ser,
esses mandamentos a qual fui submetido inundam meus pulmões de talco. Minha
sensibilidade regressou, pois minhas asas foram podadas. Uma ópera sobre o fim se
anuncia e o tenor escolhido, sou eu.
Texto retirado das “Crônicas
de um derrotado” de Saul Sotob
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