Caminhando pela Rua
Brasil, logo após o Hotel Líder , me deparei com algo que chamou minha atenção.
Um objeto alto, cumprido e pontiagudo que foi colocado bem no meio da rua.
Muitos o chamam de obelisco, outro de monumento, eu o apelidei de Washingtonzinho,
pois parece o filho daquele monumento situado nos EUA em memória a Washington.
Fiquei olhando pro
Washingtonzinho e pensando. Porque cargas d’água alguém em sã consciência
planta um troço desse aqui no meio da rua? Analisando melhor acho que acabei descobrindo
o motivo. Motoristas desprevenidos, abobalhados ou chapados, poderiam descer a
Rua Brasil e continuar na mesma direção, depois que a rua muda de mão e
vice-versa.
Após resolver esse
dilema que me tomou a manhã inteira, resolvi almoçar. Continuei subindo a Rua
Brasil em busca de um bar ou lanchonete para comer um salgado e tomar uma
cervejinha.
Quando cheguei perto da
lanchonete 2001, encontrei meu amigo Manga. Todo sorridente ele veio me
abraçar:
- Quanto tempo Chico! E
ai! Qual é a boa?
Respondi sem muito
entusiasmo:
- Nada de interessante.
Hoje cedo fiquei olhando o obelisco da Rua Brasil por horas a fio.
Manga me olhou com
espanto. – Você ficou olhando pra piroca gigante? Chico do céu após todos
esses anos só agora eu descobri que você é gay e eu não sabia!
Aquilo me pegou de
assalto. Eu? Gay? – Da onde você tirou isso Manga?
Calmamente ele foi me
explicando.
- Um dia estava
passando perto do tal obelisco e duas mulheres estavam conversando, gesticulando
e apontando para o tal. Como não tinha nada de mais interessante pra fazer, me
encostei no muro e assuntei as duas. Uma delas explicava sobre o obelisco,
dizendo que era um símbolo fálico.
- Mas o que é isso?
Perguntei ao Manga. Ele sorriu e me explicou:
- Fálico é pinto, só
que dito mais elegantemente. Fiz cara de não entender onde aquela conversa iria
chegar, então ele continuou:
- Quem, além de um
viado, é capaz de ficar olhando uma manhã inteira pra um pintão, uma piroca
gigante?
Lentamente suas palavras
foram entrando em minha mente e fazendo sentido. Num acesso de raiva respondi a
ofensa:
- E por acaso as duas
senhoras que conversavam não eram sua vó e sua mãe? Manga fecho o semblante e
reclamou:
- Não precisa colocar a
família no meio da discussão. Dito isso, foi embora resmungando sozinho. Acho
que peguei pesado com ele, pensei.
Comi um salgado e sai
pela rua andando e refletindo. Esse negócio de arte é coisa de baitola mesmo,
acho melhor eu me concentrar no violão e deixar essas esculturas pra quem
realmente entende.
Voltando para a pensão,
tornei passar em frente ao maldito obelisco.
Foi quando vi um cara observando atentamente a escultura. Parei ao seu lado e
perguntei:
- O que você acho
disso?
O homem me respondeu
ainda olhando para o amontoado de concreto:
- Pra falar a verdade,
até que achei bonito.
Pensei comigo, só tem
uma maneira de descobrir se o Manga tem razão. Foi então que formulei a
pergunta derradeira e definitiva que acabaria com qualquer dúvida:
- Por acaso você é cabeleireiro?
O homem me olhou com
espanto e disse: - Sou sim! – E para finalizar, o cheque-mate:
- E torce pro São Paulo? – Mais sobressaltado ainda, o homem de boca aberta e olhos
esbugalhados balançou a cabeça afirmativamente e perguntou:
- Como você sabe de
tudo isso? – Apenas sorri girando nos calcanhares. Indo embora para a pensão pensei
com meus botões. Não é que o safado do Manga tinha razão.
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